O estresse do excesso de atividades na criança
O estresse é uma resposta fisiológica a uma situação adversa. Quando produzido, desencadeia mudanças químicas em nosso corpo que afetam os sistemas imunológico, endócrino e neurológico. Todos nós passamos por momentos de estresse durante a vida.
Porém, atualmente, estamos submetendo muito precocemente nossas crianças a uma vida agitada, com uma agenda repleta de atividades extracurriculares, como aulas de idiomas, balé, futebol. Nossas crianças estão sem tempo para se divertir, brincar e descansar. Podemos também acrescentar o uso do tablet para assistir desenhos. Essa busca pela performance pode desencadear o estresse tóxico, que ocorre quando há uma estimulação constante do sistema de respostas ao estresse trazendo prejuízos futuros para essas crianças.
Além dessa carga excessiva de atividades, outros fatores como o bullying, discussões tanto na escola como na família, a morte de um ente querido ou a separação dos pais, por exemplo, podem desencadear esse quadro.
O Centro de Desenvolvimento da Criança da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, cita três tipos diferentes de estresse: positivo, tolerável e tóxico, dependendo da intensidade, da frequência e da duração do efeito que essa reação tem sobre o corpo. No positivo, há pouca elevação dos hormônios e se manifesta por pouco tempo. O tolerável é caracterizado pela reação temporária e que pode ser contornado quando a criança recebe ajuda. Já o estresse tóxico é o mais perigoso, porque tem efeito prolongado no organismo, associado à falta de suporte à criança.
A vivência de experiências adversas, sem a presença de uma rede de apoio e proteção, é uma importante fonte de estresse tóxico que tem efeitos muitas vezes irreversíveis. O cérebro é particularmente sensível ao estresse tóxico nos períodos em que há maiores transformações, sobretudo na gestação e durante os primeiros anos de vida. A depressão durante a gravidez leva à produção de grande quantidade de hormônios de estresse, que afeta negativamente o feto, aumentando o risco de parto prematuro, baixo peso de nascimento e alterações do desenvolvimento e do comportamento da criança.
Ainda que o maior prejuízo das experiências adversas ocorra na primeira infância (dos 0 aos 6 anos), é também nesse período em que há maior possibilidade de intervenções, mudando o curso para um desenvolvimento saudável. Para a criança, a existência de uma relação afetuosa e responsiva nos primeiros anos de vida com seus pais/cuidadores pode ser um importante fator de proteção. A qualidade das primeiras relações familiares contribui para o desenvolvimento de uma série de competências na infância e na vida adulta, proporciona a autoestima, o autocontrole, a manutenção de relações afetuosas estáveis e prazerosas e até o gosto por aprender.
Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da SPSP.