Obesidade infantil aumenta no isolamento social
Apesar de ajudar a diminuir o contágio da Covid-19 no Brasil, o isolamento social teve um efeito negativo na saúde. Pesquisa da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) concluiu que a medida adotada em várias cidades do país contribuiu para o aumento dos índices da obesidade infantil.
As conclusões foram publicadas em artigo na revista Jornal de Pediatria, que apontou que os aspectos desencadeados pela Covid-19, principalmente relacionados ao isolamento social, propiciam a obesidade infantil. A obesidade é um dos fatores que agravam a Covid-19.
"Sempre dizemos que as crianças precisam ficar, no máximo, duas horas por dia diante de telas, só que isso implica em elas terem o que fazer no restante do tempo. E a grande verdade é que as crianças são as mais afetadas pelas medidas de isolamento social".
O cenário de escolas fechadas e restrições em sair de casa faz com que a opção seja ficar na frente das telas – sejam de TV, celular ou computador. "E mesmo que seja para assistir à aula, e ultrapassam muito esse tempo de duas horas que a gente recomenda, fazendo com que o tempo de sedentarismo fique bastante elevado neste período".
A preocupação vai além do sedentarismo, já que outros aspectos podem influenciar na alimentação de má qualidade. "Não é só a atividade física, a alimentação também se modifica porque essas estão submetidas a um estresse elevado. Elas não sabem exatamente o que está acontecendo, mas estão vendo notícias sobre mortes, os pais preocupados, parentes adoecerem e até falecerem".
"E esse estresse faz com que as crianças se alimentem de maneira pior, com tendência a comer mais carboidrato e em maior quantidade, além de dormirem mal, o que tem ligação direta com uma alimentação não saudável".
O pior impacto da COVID-19 em pacientes com obesidade não é surpreendente, pois o aumento de peso pode levar à piora da função pulmonar.
Além disso, a obesidade leva a um quadro de inflamação crônica que pode contribuir para a má evolução nas infecções por COVID-19. O tecido adiposo (células de gordura) apresenta um receptor, um tipo de facilitador, para a entrada do coronavírus em seu interior que aumenta as chances de o vírus permanecer mais tempo no organismo do obeso infectado.
1- Meu filho está obeso. Ele tem mais chances de contrair a doença?
Não, a chance de contrair a doença está associada à exposição ao vírus, porém a evolução a partir do contato pode ser diferente. A maioria das crianças e adolescentes que entra em contato com o vírus desenvolve uma forma assintomática ou leve. Já em crianças obesas a chance de ter a doença com sintomas parece ser maior.
2- Se meu filho estiver acima do peso e contrair COVID-19, quais as chances de uma má evolução?
Sim, os estudos em adultos têm demonstrado que a presença da obesidade pode levar a maiores dificuldades respiratórias, pior resposta das células de defesa do corpo à infeção, aumento de fatores inflamatórios, assim como mais chance de alteração da glicemia e piora de função cardíaca.
3- Durante a quarentena, meu filho, que já era acima do peso, vem comendo muito. Posso liberar a dieta nesse período?
Não, é muito comum o excesso de peso estar associado a quadros de mais ansiedade e sedentarismo. Neste período de quarentena, torna-se ainda mais importante o incentivo à alimentação saudável, rica em legumes, frutas e verduras. Além disso, é preciso diminuir o consumo de fast-food. Se necessário, tente contato com seu médico ou equipe para encontrar mais orientações e soluções possíveis.
4- Quais as orientações para diminuir o risco de COVID-19 no meu filho com obesidade?
As orientações para a população geral devem ser seguidas com rigor:
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Fique em casa, saindo apenas para o que for estritamente necessário.
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Não leve seu filho a locais com mais chance aglomeração (supermercados, padarias).
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Sempre use máscara quando for necessário sair, conforme orientação governamental (vide as orientações no seu estado ou cidade).
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Ao retornar da rua, tome os devidos cuidados: retire os calçados antes de entrar, separe roupa para ficar em casa e para sair, limpe a bolsa e/ou carteira com álcool ou solução de detergente, além de embalagens.
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Lave bem as mãos e com frequência (todos da casa), usando água e sabão: limpando os dedos, unhas, palmas e dorso das mãos e os punhos. Quando isso não for possível, use preparações alcoólicas a 70%.
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Desinfete diariamente as superfícies de toque da casa (por exemplo, maçanetas, mesas, cadeiras, pias, vasos sanitários, interruptores de luz ou campainhas, controles remotos, telefones, smartphones, computadores, tablets e brinquedos).
5- O que fazer se meu filho obeso ficar doente?
Converse com o pediatra de sua confiança. Ele vai te orientar quais as medidas a serem tomadas.
Orientações gerais:
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Não esqueça da vacina da gripe.
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Mantenha uma rotina de horários de refeições, tempo de tela após aulas virtuais, prática de atividade física diária (existem muitas dicas nas mídias sociais).
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Manter sempre que possível alguma exposição solar (pode ser na varanda, no quintal, na laje ou até no quarto, desde que o vidro esteja aberto).
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Não relaxe em relação à alimentação, o ganho de peso pode piorar a evolução dos casos de COVID-19.
Fontes: Departamento Científico de Endocrinologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
CNN, por Dr. Carlos Nogueira, professor da Universidade Federal de São Carlos.